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Sandbox:Rocinha

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Como é a vida em Cidade Nova, área mais populosa da Rocinha, que tem a marca de 4,7 metros quadrados por morador Publicada em 14/08/2010 às 21h43m Rogério Daflon R1 R2 R3 R4 R5 DÊ SEU VOTO R1R2R3R4R5MÉDIA: 3,1Comentários RIO - Certo dia, a dona de casa Laura Barbosa abriu sua janela e avistou uma moça tomando banho. Apoiada na esquadria, ela poderia até apertar a mão da vizinha, pois menos de um metro as separava. Mãe de duas crianças e casada com um balconista, Laura tem uma casa de quarto e sala num beco mínimo. Divide a diminuta área externa com mais seis residências. Elas são tão próximas que, acima da cabeça dos moradores, em vez do céu, vê-se apenas concreto. Não à toa, uma lâmpada fica sempre acesa. Mesmo pela manhã, o ambiente é de pouca luz, e o ar parece não circular. Um quadro comum na Favela da Rocinha.

- A gente convive com muito barulho, ouve conversa e discussões dos vizinhos, repara o que não quer reparar, mas, fazer o quê? - conforma-se Laura.

A gente convive com muito barulho, ouve conversa e discussões dos vizinhos, repara o que não quer reparar, mas, fazer o quê? O panorama chamou a atenção do arquiteto Marat Troina. Sempre às voltas com a reurbanização do lugar, Marat frequentou a favela por cinco anos. Assim que o Governo do Estado divulgou o censo da comunidade, no ano passado, o urbanista quis saber qual localidade da $teria a maior densidade demográfica. Entre os 22 sub-bairros em que o local se divide, descobriu ele, há um em particular que registra um número bem maior de pessoas por metro quadrado. Trata-se de Cidade Nova, que fica entre a Estrada da Gávea e a Rua do Valão e é cortada pelo Caminho dos Boiadeiros. Lá reside Laura.

- Eu, que gosto de privacidade, acho isso aqui um horror. Às vezes, tem briga de vizinhos, não tem como não ter - afirma Ellen Silva, vizinha de porta de Laura.

A Cidade Nova tem área de 22.250 metros quadrados, com 4.700 moradores espalhados em 1.112 unidades habitacionais. Fazendo as contas, chega-se à chocante marca de 4,7 metros quadrados por pessoa.

- Deve ser o local mais lotado do Rio - arrisca Marat.

Proliferação de quitinetes O arquiteto traça alguns paralelos. Observa, por exemplo, que, entre os 22 sub-bairros, há o de menor densidade demográfica, o Laboriaux, com algo em torno de 26 metros quadrados por habitante.

- O Laboriaux tem densidade semelhante à de Copacabana (30 metros quadrados por habitante). Há outras localidades, como Macega, instalada numa encosta bem íngreme, que também tem densidade baixa para os padrões da Rocinha, com 15 metros quadrados por habitante. Vizinho à Cidade Nova, o bairro Barcelos (com oito metros quadrados por cabeça) é bem lotado em seu dia a dia, mas sobretudo pelo intenso comércio, o que, por não ser moradia, não conta em termos de densidade demográfica - afirma Marat Troina.


Ele também compara a densidade demográfica da Rocinha com a de alguns conhecidos condomínios da cidade formal:

- No Condomínio Morada do Sol, em Botafogo, por exemplo, a densidade é bem alta, com 15,4 metros quadrados por pessoa. Já a do Quartier Carioca, no Catete, é mais alta ainda, com 11,2 metros por pessoa.

Mas a realidade da Rocinha passa bem longe de qualquer comparação. Segundo pesquisa feita por amostragem dentro do mesmo censo, percentualmente, a maior queixa dos moradores da comunidade é a falta de espaço (21%). Pouca iluminação natural (18%), falta de ventilação (18%) e a existência de ruas e de vizinhos barulhentos (13%) são os outros principais problemas apontados. O urbanista Gerônimo Leitão, professor de $da Universidade Federal Fluminense (UFF), dá um exemplo dramático do que ocorre ali.

- Se você for agora no posto de saúde da Estrada da Gávea, vai encontrar, com certeza, uma criança fazendo nebulização. Em locais como a Cidade Nova, os moradores têm doenças respiratórias num nível bem acima da média. Sem falar na tuberculose, doença na qual a Rocinha apresenta o maior índice do país - enumera Gerônimo Leitão.

Essa situação só mudará quando a Rocinha começar a ter áreas livres, como praças e quadras esportivas. Para isso acontecer, o poder público deve, além de conter a verticalização desordenada, promover uma verticalização ordenada. Para Gerônimo, a favela lembra uma cidade medieval:

- Essa situação só mudará quando a Rocinha começar a ter áreas livres, como praças e quadras esportivas. Para isso acontecer, o poder público deve, além de conter a verticalização desordenada, promover uma verticalização ordenada. E as pessoas que deixariam suas casas para a abertura de espaços poderiam mudar-se para prédios a serem construídos na própria Rocinha.

O urbanista lembra que a Rocinha teve sua primeira explosão demográfica a partir da construção do Túnel Dois Irmãos, em 1971, quando se pôde chegar à favela por São Conrado. Antes, ele explica, o acesso era feito pela Gávea. Somaram--se a isso os ônibus que passaram a circular na Estrada Lagoa-Barra para facilitar a vida de quem trabalhava na Zona Sul ou na Barra da Tijuca.

Ex-presidente do IBGE, o economista Sérgio Besserman assegura que o censo a ser concluído pela instituição ainda este ano deve trazer novidades em relação à densidade demográfica da Rocinha:

- Este censo feito em 2009 foi muito importante, mas o do IBGE será ainda mais amplo.

Besserman prevê que a pesquisa confirme uma tendência na comunidade: a proliferação de quitinetes.

O arquiteto Marat Troina concorda:

- De tão escondidas em becos, muitas quitinetes da Cidade Nova não devem ter sido contabilizadas pelo censo de 2009.

Ou seja, o lugar é ainda mais apertado do que mostram os números.